Mulher
caída no chão, delirando... leva pra delegacia?!
O título deste editorial, mais que uma provocação em
relação aos problemas de saúde pública que vemos em todo o Brasil e, como não
poderia deixar de ser, de nossa cidade, é reflexo de um caso ocorrido na
véspera desta edição e presenciado por um jornalista de O
Jornalecão. Mais do que o
fato em si, que será detalhado a seguir, o acontecimento revelou uma série de
dúvidas em relação a como proceder em casos de emergência e, até mesmo, como
saber se é um desses casos, além de dúvidas sobre a seguinte questão: todos os
profissionais de saúde estão aptos a atender emergências e orientar a população
sobre como proceder nestes casos?
Ao passar de carro por uma nova rua
do bairro Guarujá, ainda sem denominação, encontrou uma senhora caída no chão,
gritando “pai, não morre!”. Preocupado, tentou conversar com ela para saber o
que havia acontecido, mas não conseguiu saber detalhes como nome, endereço ou o
que teria acontecido, apenas a informação de que sofreria de epilepsia. Como
não havia ninguém por perto, resolveu ligar para o SAMU. Ao ser atendido,
informou que a senhora disse sofrer de epilepsia, mas não sabia mais detalhes,
como o motivo de estar caída. Depois de saber que a senhora podia falar, a
profissional da saúde que atendeu a ligação disse que, em função disso, não se
tratava de um ataque epilético e que não era caso de atendimento para o SAMU,
sugerindo que procurasse algum familiar ou vizinho. Por se tratar de um
loteamento novo, ele disse que a rua sequer tinha denominação ou casas em
construção e, assim, não havia ninguém por perto, ficando impossível saber o
que houve com a senhora que estava no chão, há quanto tempo ela estava lá e se
esta era moradora da região ou não. A
atendente do SAMU sugeriu que a levasse à delegacia, falando, inclusive, de
forma agressiva ou, no mínimo, sem paciência. Como sempre soube que não deveria
remover nenhuma pessoa sem conhecer os motivos de estar caída (poderia ser
atropelamento, por exemplo), questionou esta recomendação, perguntando
exatamente isso (e se ela foi atropelada e acontecer algo, serei
responsabilizado?) e dizendo que, neste caso (recusa da atendente em acionar o
SAMU), contataria a Brigada Militar.
Novamente, antes de encerrar a ligação, a atendente recomendou que fosse
à delegacia.
Sem sucesso na tentativa de ter atenção
do SAMU, ligou para a Brigada Militar, relatando os mesmos fatos. Apesar da
dificuldade de localizar a rua, por ainda não ter denominação, quem atendeu
acionou uma viatura para ir ao local. Cerca de 100 metros de onde se encontrava
a mulher caída no chão, havia uma rua por onde passavam alguns veículos.
Passou, então, a perguntar para quem passava se conhecia a senhora e a relatar
o ocorrido e a falta de atenção do SAMU, por telefone.
Minutos depois chegaram dois policiais militares.
Nitidamente preparados para atender casos com este, conseguiram conversar com
ela e descobrir o primeiro nome, o endereço e que ela não fora atropelada. Como
a senhora não conseguia se levantar, o policial resolveu chamar atendimento
médico, mas, logo em seguida, chegou uma ambulância do SAMU, que foi acionada
diretamente na base por um casal que passou de carro e e se solidarizou ao
saber que, por telefone, o SAMU não viria. Enquanto a equipe médica fazia o
atendimento, apareceram vizinhos que a conheciam e informaram que o pai dela
havia sido socorrido pelo SAMU horas antes e que desde então a senhora esta
sumida. Bem atendida e identificada, foi removida pela equipe médica.
Alguém pode perguntar o motivo de ser tema de editorial um
caso sem tanta gravidade quanto outros que acontecem todos os dias na nossa
Zona Sul de Porto Alegre, mas este caso levantou algumas questões que
procuraremos responder nas próximas edições, contando, inclusive, com a
participação e a colaboração de nossos leitores, dando suas opiniões ou relatando
fatos. Além de reportagem especial na próxima edição do jornal, no site
www.jornalecao.com.br, durante o mês de setembro, matérias especiais sobre a
área de saúde pública serão destaque, abordando algumas questões:
- Como a comunidade, ao auxiliar no socorro, pode estar
preparada para diferenciar casos de urgência ou emergência de outros menos
graves?
- Como o profissional da saúde, por
telefone, pode diferenciar casos graves de outros, somente com as palavras de
pessoas comuns, que muitas vezes não sabem como proceder?
- A Brigada Militar, já sobrecarregada, deveria atender
casos como este? Se não, quem é responsável?
- É correto recomendar que se remova uma pessoa que está
caída no chão para levá-la à delegacia?
- Se um pessoa não habilitada levar alguém que está no
chão, sem saber a razão (se foi atropelado, por exemplo), e esta tiver
consequências pelo transporte inadequado, será responsabilizada por fazer o
atendimento?
Enfim, são muitas questões. E, para
respondê-las, vamos buscar depoimentos e orientações e pesquisar sobre o
assunto a fim de colaborar para que a comunidade saiba como ajudar a melhorar
ao menos um pouco nossa tão calejada saúde pública. Aguarde!
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