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Editorial - Edição 215 Agosto 2013

Mulher caída no chão, delirando... leva pra delegacia?!

O título deste editorial, mais que uma provocação em relação aos problemas de saúde pública que vemos em todo o Brasil e, como não poderia deixar de ser, de nossa cidade, é reflexo de um caso ocorrido na véspera desta edição e presenciado por um jornalista de O Jornalecão. Mais do que o fato em si, que será detalhado a seguir, o acontecimento revelou uma série de dúvidas em relação a como proceder em casos de emergência e, até mesmo, como saber se é um desses casos, além de dúvidas sobre a seguinte questão: todos os profissionais de saúde estão aptos a atender emergências e orientar a população sobre como proceder nestes casos?
Ao passar de carro por uma nova rua do bairro Guarujá, ainda sem denominação, encontrou uma senhora caída no chão, gritando “pai, não morre!”. Preocupado, tentou conversar com ela para saber o que havia acontecido, mas não conseguiu saber detalhes como nome, endereço ou o que teria acontecido, apenas a informação de que sofreria de epilepsia. Como não havia ninguém por perto, resolveu ligar para o SAMU. Ao ser atendido, informou que a senhora disse sofrer de epilepsia, mas não sabia mais detalhes, como o motivo de estar caída. Depois de saber que a senhora podia falar, a profissional da saúde que atendeu a ligação disse que, em função disso, não se tratava de um ataque epilético e que não era caso de atendimento para o SAMU, sugerindo que procurasse algum familiar ou vizinho. Por se tratar de um loteamento novo, ele disse que a rua sequer tinha denominação ou casas em construção e, assim, não havia ninguém por perto, ficando impossível saber o que houve com a senhora que estava no chão, há quanto tempo ela estava lá e se esta era moradora da região ou não.  A atendente do SAMU sugeriu que a levasse à delegacia, falando, inclusive, de forma agressiva ou, no mínimo, sem paciência. Como sempre soube que não deveria remover nenhuma pessoa sem conhecer os motivos de estar caída (poderia ser atropelamento, por exemplo), questionou esta recomendação, perguntando exatamente isso (e se ela foi atropelada e acontecer algo, serei responsabilizado?) e dizendo que, neste caso (recusa da atendente em acionar o SAMU), contataria a Brigada Militar.  Novamente, antes de encerrar a ligação, a atendente recomendou que fosse à delegacia.
Sem sucesso na tentativa de ter atenção do SAMU, ligou para a Brigada Militar, relatando os mesmos fatos. Apesar da dificuldade de localizar a rua, por ainda não ter denominação, quem atendeu acionou uma viatura para ir ao local. Cerca de 100 metros de onde se encontrava a mulher caída no chão, havia uma rua por onde passavam alguns veículos. Passou, então, a perguntar para quem passava se conhecia a senhora e a relatar o ocorrido e a falta de atenção do SAMU, por telefone.
Minutos depois chegaram dois policiais militares. Nitidamente preparados para atender casos com este, conseguiram conversar com ela e descobrir o primeiro nome, o endereço e que ela não fora atropelada. Como a senhora não conseguia se levantar, o policial resolveu chamar atendimento médico, mas, logo em seguida, chegou uma ambulância do SAMU, que foi acionada diretamente na base por um casal que passou de carro e e se solidarizou ao saber que, por telefone, o SAMU não viria. Enquanto a equipe médica fazia o atendimento, apareceram vizinhos que a conheciam e informaram que o pai dela havia sido socorrido pelo SAMU horas antes e que desde então a senhora esta sumida. Bem atendida e identificada, foi removida pela equipe médica.
Alguém pode perguntar o motivo de ser tema de editorial um caso sem tanta gravidade quanto outros que acontecem todos os dias na nossa Zona Sul de Porto Alegre, mas este caso levantou algumas questões que procuraremos responder nas próximas edições, contando, inclusive, com a participação e a colaboração de nossos leitores, dando suas opiniões ou relatando fatos. Além de reportagem especial na próxima edição do jornal, no site www.jornalecao.com.br, durante o mês de setembro, matérias especiais sobre a área de saúde pública serão destaque, abordando algumas questões:
- Como a comunidade, ao auxiliar no socorro, pode estar preparada para diferenciar casos de urgência ou emergência de outros menos graves?
- Como o profissional da saúde, por telefone, pode diferenciar casos graves de outros, somente com as palavras de pessoas comuns, que muitas vezes não sabem como proceder?
- A Brigada Militar, já sobrecarregada, deveria atender casos como este? Se não, quem é responsável?
- É correto recomendar que se remova uma pessoa que está caída no chão para levá-la à delegacia?   
- Se um pessoa não habilitada levar alguém que está no chão, sem saber a razão (se foi atropelado, por exemplo), e esta tiver consequências pelo transporte inadequado, será responsabilizada por fazer o atendimento?

Enfim, são muitas questões. E, para respondê-las, vamos buscar depoimentos e orientações e pesquisar sobre o assunto a fim de colaborar para que a comunidade saiba como ajudar a melhorar ao menos um pouco nossa tão calejada saúde pública. Aguarde!

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