Fogos de artifício: os dois lados da moeda
Quem nunca assistiu
e se encantou, ainda que apenas quando criança, com um espetáculo de queima de
fogos de artifício? Pois também desde a infância da Humanidade, há milhares de
anos atrás, o ser humano tem fascínio pelo fogo. O domínio sobre o fogo explica
muito do que o somos hoje, e não à toa a queima de fogos é um dos sinais mais
inequívocos da passagem de ano, em Porto Alegre ou qualquer outra parte do
mundo. É justamente a queima de fogos que sucede a contagem regressiva (5, 4,
3, 2, 1... Pum!) que marca um novo ano, esse ritual de passagem e de contagem
do tempo tão tipicamente humano. No entanto, existe um outro lado, bem menos
festivo e alegre, que é preciso ser lembrado acerca da queima de fogos. Além das
centenas de pessoas que se ferem ou mesmo morrem ao manuseá-los durante as
comemorações, há ainda os danos causados pelos fogos de artifício aos animais,
que ficam muito perturbados com toda a luz e o barulho. Não é preciso possuir
um bicho de estimação para perceber como cães e gatos ficam acuados e
amedrontados em datas como Natal e Ano-Novo, onde a queima de fogos é intensa.
Nessas épocas do ano, infelizmente é comum casos onde os animais domésticos,
sozinhos em casa - pois a família foi se reunir, fogem assustados com o barulho
e depois, desnorteados, não conseguem achar o caminho de volta para casa.
Em tempos em que o
ser humano vem se questionando cada vez mais sobre as implicações de suas ações
e sobre seu papel no planeta, não foi à toa que, na edição 220 de O Jornalecão,
o assunto “fogos de artifício” apareceu três vezes, sem contar este editorial.
No espaço A Voz do Leitor, na página ao lado, Juarez de Lima Cruz transforma em
palavras sua preocupação com os peixes e outros animais que vivem no Guaíba,
principalmente após o show realizado no Réveillon na Usina do
Gasômetro, onde milhares de pessoas apreciaram 15 minutos de fogos de
artifício, lançados em embarcações que estavam estrategicamente posicionadas
nas águas do lago. O autor lembra que estamos no período da piracema e os
pescadores estão proibidos de pescar, para que as espécies possam se reproduzir
tranquila e adequadamente. Curiosamente, também na página ao lado, a vereadora
Lourdes Sprenger também escreve sobre a queima de fogos e os problemas
consequentes, sugerindo que “o uso de fogos de artifício pode ser substituído
por efeitos de luzes a laser, com brilhos nos céus”, como já acontece em
parques temáticos e no Natal Luz, de Gramado, por exemplo, para que cessem os
danos causados às pessoas e aos animais. E na página 9, temos ainda a Turma do
Guaíba, que aborda o tema ao lembrar que os animais
têm os sentidos muito mais apurados do que nós, humanos, e, portanto, muito
mais sensíveis também.
Sem questionar a
beleza visual dos shows de fogos de artifício, é realmente importante
estabelecer um debate amplo e permanente sobre como podemos minimizar os
efeitos de nossas ações sobre o planeta e as outras espécies que o habitam
conosco. O ser humano se separou da natureza, tornou-se sujeito, criou a
cultura e hoje vive em um universo cada vez mais próprio, com suas vantagens e
desvantagens para o convívio com as outras espécies. É bem possível que as
vantagens sejam todas nossas, dos humanos em relação aos outros animais...
e não podemos esquecer que as desvantagens são divididas com as outras
espécies, que tentam se adaptar ao desenvolvimento e ao progresso que estamos
impondo ao planeta. O ser humano, no entanto, acumulou conhecimento suficiente
para saber que todos os seres vivos devem ser respeitados e que, no fim das
contas, filhos do mesmo planeta, somos todos irmãos.
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