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Editorial - Edição 220

Fogos de artifício: os dois lados da moeda

Quem nunca assistiu e se encantou, ainda que apenas quando criança, com um espetáculo de queima de fogos de artifício? Pois também desde a infância da Humanidade, há milhares de anos atrás, o ser humano tem fascínio pelo fogo. O domínio sobre o fogo explica muito do que o somos hoje, e não à toa a queima de fogos é um dos sinais mais inequívocos da passagem de ano, em Porto Alegre ou qualquer outra parte do mundo. É justamente a queima de fogos que sucede a contagem regressiva (5, 4, 3, 2, 1... Pum!) que marca um novo ano, esse ritual de passagem e de contagem do tempo tão tipicamente humano. No entanto, existe um outro lado, bem menos festivo e alegre, que é preciso ser lembrado acerca da queima de fogos. Além das centenas de pessoas que se ferem ou mesmo morrem ao manuseá-los durante as comemorações, há ainda os danos causados pelos fogos de artifício aos animais, que ficam muito perturbados com toda a luz e o barulho. Não é preciso possuir um bicho de estimação para perceber como cães e gatos ficam acuados e amedrontados em datas como Natal e Ano-Novo, onde a queima de fogos é intensa. Nessas épocas do ano, infelizmente é comum casos onde os animais domésticos, sozinhos em casa - pois a família foi se reunir, fogem assustados com o barulho e depois, desnorteados, não conseguem achar o caminho de volta para casa.
Em tempos em que o ser humano vem se questionando cada vez mais sobre as implicações de suas ações e sobre seu papel no planeta, não foi à toa que, na edição 220 de O Jornalecão, o assunto “fogos de artifício” apareceu três vezes, sem contar este editorial. No espaço A Voz do Leitor, na página ao lado, Juarez de Lima Cruz transforma em palavras sua preocupação com os peixes e outros animais que vivem no Guaíba, principalmente após o show realizado no Réveillon na Usina do Gasômetro, onde milhares de pessoas apreciaram 15 minutos de fogos de artifício, lançados em embarcações que estavam estrategicamente posicionadas nas águas do lago. O autor lembra que estamos no período da piracema e os pescadores estão proibidos de pescar, para que as espécies possam se reproduzir tranquila e adequadamente. Curiosamente, também na página ao lado, a vereadora Lourdes Sprenger também escreve sobre a queima de fogos e os problemas consequentes, sugerindo que “o uso de fogos de artifício pode ser substituído por efeitos de luzes a laser, com brilhos nos céus”, como já acontece em parques temáticos e no Natal Luz, de Gramado, por exemplo, para que cessem os danos causados às pessoas e aos animais. E na página 9, temos ainda a Turma do Guaíba, que aborda o tema ao lembrar que os animais têm os sentidos muito mais apurados do que nós, humanos, e, portanto, muito mais sensíveis também. 

Sem questionar a beleza visual dos shows de fogos de artifício, é realmente importante estabelecer um debate amplo e permanente sobre como podemos minimizar os efeitos de nossas ações sobre o planeta e as outras espécies que o habitam conosco. O ser humano se separou da natureza, tornou-se sujeito, criou a cultura e hoje vive em um universo cada vez mais próprio, com suas vantagens e desvantagens para o convívio com as outras espécies. É bem possível que as vantagens sejam todas nossas, dos humanos em relação aos outros animais... e não podemos esquecer que as desvantagens são divididas com as outras espécies, que tentam se adaptar ao desenvolvimento e ao progresso que estamos impondo ao planeta. O ser humano, no entanto, acumulou conhecimento suficiente para saber que todos os seres vivos devem ser respeitados e que, no fim das contas, filhos do mesmo planeta, somos todos irmãos.

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