59 famílias da
comunidade Beco do Adelar vivem com medo de desabamentos
São 18 anos à espera de uma nova
casa e sob ameaça de desabamento no Buraco Quente, uma das áreas de risco no Beco do Adelar, na Aberta dos Morros. Somando-se a outros moradores
na mesma situação, são 59 famílias nesta comunidade. Assim como em outros
locais da Zona Sul de Porto Alegre, apesar do fato de conviverem com o perigo
eminente de uma tragédia, o tempo de aguardar pela nova moradia é longo.
Atualmente,
o Beco do Adelar é área integrante do Programa de
Regularização Urbanística Fundiária do Departamento Municipal de
Habitação (Demhab) e algumas famílias estão sendo atendidas pelo aluguel
social, enquanto outras “aguardam a construção de um novo empreendimento na
Avenida Edgar Pires de Castro, para possível transferência de moradia”
(conforme informou o Demhab). Além disso, 20 famílias já foram reassentadas
anteriormente no Loteamento Chapéu do Sol por residirem em áreas de
risco ou leito viário. Segundo o órgão, atendendo a novas demandas do Orçamento
Participativo para urbanização e dando continuidade ao processo de
regularização, iniciou-se o Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU) da área e
avaliação técnica da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) quanto às áreas de
risco.
Jean Pierre Corseuil / O Jornalecão
Nilson Gomes mostra uma pedra que rolou e parou
muito da porta de uma das famílias do Buraco Quente - tragédia evitada por alguns metros |
Casas do Buraco Quente ocupam área de antiga
pedreira
No caso do Buraco Quente, área de
uma antiga pedreira abandonada após o fim da extração de pedras, as casas foram
construídas de forma desordenada “e em alguns locais impróprios à moradia temos
áreas de risco geológico, geotécnico e hidrológico”, conforme informa relatório
do Programa de Áreas de Risco da Smam,
de 11 de novembro de 2013, no qual estão incluídos casos de “desmoronamento de
solo, rolagem e queda de blocos de rocha” ocorridos no local em 2002, 2007 e 2011,
quando os moradores correram alto risco de serem atingidos. O programa é
executado pela Smam, em parceria com a Defesa Civil e o Demhab, e identifica de
áreas suscetíveis a riscos hidrológicos e geológicos, analisando áreas e
atestando ou não que a mesma apresenta risco e auxiliando as equipes da Defesa
Civil.
Muitas famílias não aceitam o Aluguel Social
para deixar suas casas
Se a “sorte” poupou, até o
momento, a vida dos moradores do local, o mesmo não pode se dizer de algumas
casas (mas o período de chuvas previstas para o verão está deixando as famílias
em alerta). Entre as moradias atingidas, algumas chegaram a ser demolidas ou
foram abandonadas por famílias que nelas residiam (outras continuam no local). Enquanto
o Departamento Municipal de Habitação (Demhab) não soluciona a situação das
famílias, estas e outras famílias em áreas de risco aguardam a mudança de
endereço por meio do programa de moradia popular e o Demhab oferece o benefício
do Aluguel Social. Mas apenas parte das famílias aceita receber o valor do
aluguel enquanto as novas casas não ficam prontas. O receio é de ficar sem
moradia, uma espera que chega a durar anos sem uma solução positiva, o que pode
ser comprovado durante entrevistas com alguns moradores do Buraco Quente. E a
razão são fatos acontecidos no próprio local, pois algumas casas foram
atingidas por desabamento de pedras e, apesar de terem sido demolidas, famílias
que nelas residiam ainda aguardam solução para seus casos.
Um deles, o de Nilson Rogério
Gomes, se arrasta desde 2002, totalizando mais de 11 anos aguardando que o
Município lhe entregue a casa prometida quando a sua foi demolida, após ser condenada depois de atingida por pedras. A família chegou a ser beneficiada
com o Aluguel Social por cinco meses, em 2010, mas o benefício não foi
renovado. Depois disso, Nilson e a família tiveram que se mudar para a casa da
mãe dele, onde aguardariam a mudança de endereço. Como a espera se prolongou,
eles se mudaram e hoje pagam aluguel, sem saber quando terão sua situação
solucionada.
Promessa de nova casa foi “esquecida”
Em 2009, a Associação dos
Moradores do Beco do Adelar, por meio de seu então presidente Cézar Ramos,
chegou a emitir uma declaração em apoio a Nilson, destacando que, em 2002, após
a demolição da casa, “houve o comprometimento do Poder Público Municipal em
realocar Sr. Nilson e sua família em uma casa do Demhab. (...) Mesmo que a
parte interessada tenha perambulado por várias repartições do Demhab e da Smam,
a situação ainda não foi resolvida”. Desde então, como bem destaca sua
associação de moradores, Nilson vem “peregrinando” por órgãos municipai, mas também já pediu ajuda no Ministério Público e em esferas dos
governos estadual e federal, sem sucesso. Ao contrário, de acordo com a área
técnica do Demhab, em agosto de 2012, foi proferida sentença
judicial, em que foi julgado improcedente o pedido do autor, sobre a
concessão de uma nova moradia para ele e sua família: “Além de não ter sido
demonstrada a negativa de inscrição, também não resta comprovado nos autos que
o demandante preenche os requisitos para a inclusão em tais programas. Julgo
improcedente”, declarou o juiz do caso.
Morador lembra antigo projeto, mas Buraco
Quente não foi incluído
Além da tristeza por não receber a
moradia prometida pelo Município há mais de 11 anos atrás, Nilson se emociona
ao comentar que este drama que ele e outros vizinhos estão vivendo poderia ter
sido evitado, pois lembra que há cerca de 30 anos foi apresentado aos
moradores projeto para recuperar a área e reassentar as famílias muito antes de
sua casa ser condenada. “Foi feito um projeto de engenheiros, geólogos, com
plantas que constam na Smov (Secretaria Municipal de Obras e Viação), mostrando
como iam ser as estruturas, e informaram que todos os que moram há anos neste
local iriam ser retirados para fazer as casas e, depois, voltariam”, destacou
Nilson.
No entanto, a arquiteta Synthia Borges, da Secretaria
Municipal de Urbanismo (Smurb), explicou que a área do Buraco Quente não foi
incluída neste projeto por ser área de risco:
"A Vila Beco do Adelar era
integrante do Programa de Regularização Fundiária. Na época, o
projeto de regularização fundiária da vila não incluiu as famílias
que estavam localizadas no chamado ‘Buraco Quente’, por se tratar de área de
risco. Estas famílias deveriam ser reassentadas em outro local, porém,
como não havia verba destinada para isso, nada foi feito".
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