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Janga Mendes - um século de pioneirismo

Há mais de 100 anos, em 1912, João Mendes Ouriques foi um dos pioneiros na ocupação da região do atual bairro Guarujá, em uma área de 106 hectares, que se estendia do Guaíba até o outro lado do Morro das Abertas (onde hoje é o Jardim Urubatã, mas naquela época eram as terras de Podalírio Machado) e, no sentido norte-sul, compreendia as terras onde, a partir dos anos 70, começaram a ser construídos parte do Jardim Di Primio Beck e as ruas Osório Mendes Ouriques e Agenor Mendes Ouriques (homenageando dois de seus filhos, que lotearam a área).
João Mendes Ouriques (que virou nome de rua no Jardim Isabel) nasceu em 1890, era popularmente conhecido como Janga Mendes e conviveu na primeira metade do século 20 com outros moradores também até hoje lembrados, como Mário Assumpção, Podalírio Machado, Onofre Tavares, Augusto Mendes de Souza, Júlio Sant’Anna, Marciano Caldas, Juca Batista e Rubem Berta (patrono da Varig).
Há cerca de um século, a vida da família de Janga era de muito trabalho e dedicação. Quando jovem, ele extraía lenha das partes mais altas da propriedade, no Morro das Abertas, e esta era transportada de trem para a área central da cidade (ver matéria abaixo). Mais tarde, além de utilizar suas terras para plantar, começou a criar gado leiteiro (sua principal fonte de renda) e o leite produzido também era vendido no Centro, diariamente, com ele e um de seus filhos conduzindo a carroça puxada por dois cavalos, que no dia seguinte ganhavam folga e eram trocados por dois descansados. 
Janga Mendes faleceu em 1944, com 54 anos, mas antes descobriu e começou a explorar pedreiras de granito que foram utilizadas por muitos anos após sua morte, empregando, principalmente, moradores da região.

Estrada de ferro passava nas terras de Janga.
Pontilhão ainda resiste ao tempo

                                                 João Carlos Ouriques da Silveira
Pontilhão que assentava os trilhos é a última relíquia histórica 
da estrada de ferro que ligava a Serraria ao Centro

Em frente à casa de Janga Mendes e por dentro de suas terras passava a estrada de ferro que ligava o Centro de Porto Alegre ao Matadouro da Serraria, que por muito tempo sediou o 2º REC MEC e 2ª Cia M MNT, posteriormente o 12º RC Mec e onde atualmente está o 8º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado do Exército. “O trem trazia gado para ser abatido no Matadouro e, na volta, levava lenha para ser usada pela população da Capital em seus fogões de cozinha e para outros fins”, destaca João Carlos Ouriques da Silveira, neto materno de Janga.
A via férrea foi extinta em 1943 e, aos poucos, seus vestígios foram desaparecendo. Mas, para surpresa de muitos, um pontilhão original sobre o qual estava assentada a estrada resiste há 70 anos, desde a desativação da linha. Sob o pontilhão fluem as águas do Arroio Guarujá, que desembocam no Guaíba após passar pela Avenida Guarujá.  “Esta relíquia histórica está preservada ao lado de uma casa também antiga, na Estrada da Serraria, 1352”, destaca João Carlos. O pontilhão vem sendo preservado por João Romalino da Silva, morador antigo do bairro e militar reformado que reside no local, como forma de manter viva a história da região.


Casa construída há 77 anos conta a história do Guarujá

                                                    João Carlos Ouriques da Silveira
Em pé desde 1937, casa construída por Janga Mendes
é uma das mais antigas da região
  
Em 1937, Janga Mendes construiu uma casa, em sua propriedade, que pode ser vista atualmente por quem passa pela Avenida da Serraria, em área que atualmente pertence à Fundação dos Servidores do SESI (Fusergs). O prédio, que conta um pouco da história do bairro Guarujá, foi erguido próximo à casa onde vivia a família, que, mais tarde, remodelada, passou a sediar o restaurante da sede campestre da Fusergs, que hoje está desativada.


Família Mendes Ouriques continua na região



Janga Mendes era casado com Ernestina Pereira Ouriques (Dona Nenê), com quem teve sete filhos: Osório (em 1913), Agenor (1914), Marilce (1916), Enedina (1919), Alencastro (1921), Orlando (1923) e Salvador (1926), dos quais permanecem vivos apenas os dois mais jovens. Mas a família Mendes Ouriques permaneceu na região e muitos de seus descendentes ainda residem na Zona Sul de Porto Alegre nos dias de hoje, como é o caso de seu neto materno João Carlos Ouriques da Silveira (filho de Enedina Mendes Ouriques e de João Pacheco da Silveira), que nos concedeu estas informações e ao qual agradecemos. O Sr. João Carlos, que mora no bairro Guarujá, teve como fonte de dados sua mãe, Enedina, e também Augusto Mendes de Souza, sobrinho de Janga Mendes que conviveu muitos anos com ele.

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