Arquivo pessoal
A notícia de que a paraense Ana Cristina
Wanzeler é uma arquiteta que estará à frente do Ministério da Cultura do
governo brasileiro pode sinalizar que arquitetura, arte e artesanato são
cultura e apresentam também problemas culturais comuns. Mas que problemas?
Pois bem, problemas humanos, econômicos e sociais, os mesmos de sempre. E as
soluções? Políticas? Um raciocínio simplificado que remete à recente
experiência que tive ao participar de um seminário sobre processos de
musealização na Universidade do Porto com um trabalho sobre o projeto Guarisse,
que desenvolvo junto à Associação dos Escultores do Estado do RGS - AEERGS. Em
uma Europa portuguesa em crise, tive a oportunidade de me deparar com os mesmos
problemas relacionados à valorização da arte ou do artesanato e à preservação
do patrimônio material e imaterial enfrentados por nós.
Entre os trabalhos apresentados por
pesquisadores de todas as áreas, cujo resultado das pesquisas relaciona-se à
preservação de memórias, chamou a atenção a narrativa de Inês Moreira
intitulada "Quando o museu ainda é um estaleiro de obras: potencialidades
e dilemas da curadoria em edifícios em processo de musealização". Inês
apresentou um trabalho sobre a revitalização de uma fábrica incendiada - e,
portanto, abandonada - e a sua transformação em museu. Um museu comunitário que
resgata e preserva a identidade dos trabalhadores e de seus familiares a partir
do que, por quem e de como era desenvolvido o trabalho no local. São registros
que se estendem ao consumo e aos gostos da população, à publicidade e ao
comércio desde a época em que a fábrica de cerâmicas funcionava. Para a
revitalização deste espaço em estado de abandono, universidade e
entidades sem fins lucrativos uniram-se aos profissionais da arquitetura e da
arte, do artesanato e da história - áreas complementares que formam o espectro
cultural de um país.
Neste caso, um país que, simplesmente,
desde 2012 extinguiu o Ministério da Cultura pelo atual legislativo,
transformando-o em Secretaria da Cultura, sob as ordens do primeiro ministro
português. Um importante ministério que existia de forma independente - pasmem!
- somente desde 1995. O que parece demonstrar que um país acostumado a receber
milhões de turistas por ano tenha agravado ainda mais os seus problemas
econômicos com a falta de investimentos e de políticas públicas destinadas ao
desenvolvimento artístico e cultural, ou à preservação de prédios históricos
que representem a sua própria cultura identitária e - porque não? - também a
nossa.
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