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Editorial

Junho, o mês que mudou a cara do Brasil

Diante das manifestações gigantescas que tomaram conta de todo o Brasil e do acirramento das tensões a cada novo protesto, o mês de junho se aproxima do final trazendo a certeza de que o país nunca mais será o mesmo. Por outro lado, os brasileiros ainda se questionam sobre os resultados futuros desta indignação popular. O movimento que começou em janeiro contra o aumento no preço da passagem de ônibus ganhou adesões de manifestantes que desejam muito mais e parecem determinados a não recuar até que o Brasil mude de verdade. Apesar de uma pequena parcela dos participantes do protesto estar seguindo o caminho de saques, depredação e agressões, a grande maioria é pacífica e quer apenas o que é de direito do cidadão: melhores condições de saúde, segurança e o fim da corrupção que é a grande chaga deste país. Ou seja, só querem o que a Constituição já garante ao povo, mas que, infelizmente, os donos do poder insistem em negar.
No restante do mundo, as manifestações em plena Copa das Confederações surpreenderam pela imagem internacional dos brasileiros - cidadãos alegres, hospitaleiros e pacíficos. E não é que o país do futebol despertou de um estado que mais parecia apatia, diante de tantos desmandos e falcatruas, justamente quando todos os olhos do mundo se voltam para cá em função do principal evento teste para a Copa do Mundo. Aliás, é importante destacar que esta revolta coletiva está muito atrelada ao Mundial de 2014. Quando o Brasil foi anunciado com sede, vendeu-se a ideia de que o Brasil teria grandes benefícios, obras importantes seriam realizadas em benefício da população e que o legado seria extremamente positivo. Hoje, faltando menos de um ano para a Copa, o que se vê são estádios custando muito mais do que as previsões iniciais e obras importantes atrasadas ou sequer iniciadas. No caso de Porto Alegre, a nova ponte do Guaíba, vital para a ligação da capital com cidades de todo Estado, e a ampliação do Aeroporto Salgado Filho, por exemplo, ainda são apenas sonhos.

No entanto, é importante destacar que este despertar coletivo não se deu de uma hora pra outra. Ao longo dos anos, a população vem descobrindo que somente se manifestando pode forçar o poder público a agir de forma mais ágil e eficiente, além de lutar pelo que acredita ser o melhor para si. Na Zona Sul já tivemos casos emblemáticos nos últimos anos que nos mostram que a população está atenta a seus direitos. Há alguns anos, por exemplo, depois de muita polêmica e manifestações na Câmara Municipal, a maioria dos eleitores que votaram optaram pela não construção de prédios comerciais na área do antigo Estaleiro Só, no bairro Cristal. Há alguns meses atrás, em dezembro, após um temporal que deixou a cidade sem luz de forma prolongada, moradores de diversos bairros, como Ipanema, Guarujá e Ponta Grossa, bloquearam ruas e exigiram o restabelecimento da energia elétrica para encerrar os protestos, que só foram encerrados horas depois, quando a CEEE conseguiu solucionar o problema. Mais recentemente, desde abril temos observado melhorias na orla de Ipanema desde que moradores da região bloquearam a Avenida Guaíba e passaram a protestar, insistentemente, contra a poluição sonora e a insegurança no bairro Ipanema. Ou seja, estamos em um caminho sem volta, no qual o povo se deu conta de que, além de ser quem paga pelos desmandos e pela corrupção, é também o mais prejudicado, pois o dinheiro desviado é o que falta para os serviços básicos, mas que também é o único que pode forçar seus representantes a mudar a cara do Brasil.

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