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Editorial - Edição 219

A importância de saber como reivindicar

Nos dias 30 de novembro e 7 de dezembro, foram realizadas duas manifestações, em bairros diferentes, em prol de mais segurança na Zona Sul de Porto Alegre. Na primeira delas, moradores e empresários promoveram passeata na Avenida Otto Niemeyer, nos bairros Cavalhada, Camaquã e Tristeza. Uma semana depois, a comunidade do Jardim Isabel também se manifestou com o mesmo propósito. Nos dois casos, os assaltos e arrombamentos são uma das principais reivindicações. Nada incomum, já que é um grande problema da sociedade e cada vez mais as pessoas tomam consciência da importância de lutar por melhorias para si e seus semelhantes. Além disso, muitas comunidades da região são articuladas e há décadas fazem reivindicações coletivamente. Sinal de que a Zona Sul está cada vez mais preparada para lutar por um mundo melhor, começando pelos arredores de nossas casas.
Recentemente, o falecimento de Nelson Mandela entristeceu bilhões de pessoas no mundo todo. Mais do que uma figura carismática, o ex-presidente sul- africano deixou um exemplo de doação aos seus semelhantes, lutando por um mundo melhor e percorrendo diversos países, a partir de sua luta contra a violenta segregação racial vivida por seu povo, para ampliar sua luta pacífica para outros rincões. A questão aqui é justamente o exemplo que Mandela deu a todos, assumindo sua luta local até se tornar uma referência mundial. Para fazer um mundo melhor, precisamos primeiro cuidar do lugar em que vivemos, precisamos valorizar e respeitar as próprias raízes, o que é muito diferente de fechar-se ao resto do mundo. E isso Nelson Mandela mostrou muito claramente com sua luta, que partiu de sua aldeia e conquistou o mundo.
Madida, como é conhecido por seus conterrâneos, poderia ter tido uma vida tranquila e ter deixado seus ensinamentos nos arredores de onde viveu, mas se impôs a necessidade de se mobilizar contra o Apartheid que praticamente ignorava a maioria negra, que vivia sem direitos e à margem da minoria branca. Preso, condenado à morte, depois modificada para prisão perpétua, saiu da cadeia 27 anos depois, ainda mais convicto de que precisava ainda se doar para a união e a pacificação de seu país. Antes, durante e depois de ser o primeiro presidente negro e democraticamente eleito da África do Sul, Mandela trabalhou em prol da união da maioria negra e da minoria branca em uma só pátria. Consciente de que é necessária a união para atingir os objetivos e, ao mesmo tempo, de que cada um deve fazer a sua parte, ele comandou nos anos 90 a “refundação” e a “pacificação” de uma África para todos e entrou para a história como um dos ícones de seu tempo, mais do que exemplo de líder, um exemplo de ser humano a ser seguido.
Assim como outros que o antecederam, entre eles Ghandi e Madre Teresa, para citar exemplos de outros grandes do século 20, Nelson Mandela deixou um legado de doação e luta em benefício do próximo. Consciente de sua importância e, ao mesmo tempo, humilde para saber que era um homem como os demais, mas que deveria fazer a sua parte. O ex-presidente sul-africano deixa uma lacuna, porém seu exemplo de vida segue a influenciar outros Mandelas que estão por aí em busca de um mundo melhor e de uma melhor condição de vida para todos os seres humanos, seja ajudando a melhorar sua rua ou bairro, mobilizando mais pessoas por meio de ferramentas como a internet, ou de inúmeras outras maneiras. Mandela nasceu negro, há 95 anos, em um país que ignorava e oprimia a maioria e partiu como uma referência mundial, demonstrando que, por mais que as dificuldades impostas possam nos fazer recuar, se cada pessoa fizer a sua parte, poderemos construir um futuro em que todos sejamos verdadeiramente irmãos.

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