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Da pré-adolescência à democracia facebookiana: a liberdade também tem seus limites

Crédito: Arquivo pessoal
Obra "Liberdade", de Zoravia Bettiol,
na orla do bairro Ipanema
O Facebook é um site prestador de serviços de “rede social” que foi criado por Mark Zuckerberg e alguns colegas de faculdade nos Estados Unidos, oficialmente lançado no ano de 2004. No início, era utilizado somente para comunicação entre os estudantes da Universidade de Harvard, mas em seguida se expandiu a outras universidades norte-americanas, até tornar-se público. É um site que admite o cadastro de qualquer pessoa com mais de 13 anos de idade, mas está comprovado que existem mais de 7,5 milhões de crianças menores de 13 anos que constroem seus perfis no Facebook e convivem virtualmente com os adultos, leem o que eles postam e compartilham. Aliás, a palavra “compartilhar” nunca foi tão utilizada por nós. Dividir, partilhar, distribuir, repartir ou compartir está entre as suas significações, mas “com + partilhar” pode significar a tomada de posição em relação a algo e parece que tem a ver com sentimentos de pertencimento.
No Brasil, de acordo com pesquisas recentes, são mais de 47 milhões de brasileiros que acessam o site todos os dias e publicam informações pessoais ou profissionais, suas fotos e opiniões sobre os acontecimentos cotidianos. Somos o segundo país que mais utiliza esta rede social, depois dos Estados Unidos.  Em época de eleição, aumentou a propaganda política virtual e também a liberdade de nos manifestarmos sobre os candidatos escolhidos, o que pode sinalizar uma nova fase da democracia brasileira e do uso da internet. Entretanto, tornou-se motivo de preocupação a postagem pública de comentários preconceituosos sobre os eleitores e os seus candidatos, o que parece ir de encontro à legislação vigente e à nossa própria evolução humana.  Usar o Facebook para ofender uma pessoa por sua opção de voto declarada e falar mal de sua origem cultural ou social, ou do modo de se expressar, de vestir, do peso e dos hábitos pessoais dos candidatos que concorrem ao segundo turno das eleições para presidente no Brasil, é, no mínimo, uma demonstração da nossa imaturidade democrática.
Em processo, avançamos na tecnologia e na comunicação e ainda aprendemos a nos relacionar com os nossos semelhantes e as nossas diferenças. É como se, mimados, estivéssemos vivenciando uma pré-adolescência tardia sem termos completado os 13 anos necessários para utilizar o Facebook, ou os 16 para votar.

Marcia Morales Salis – gestora cultural, moradora do bairro Ipanema

Um comentário:

  1. A impessoalidade do terminal muitas vezes faz com que as pessoas digam coisas que normalmente não diriam se estivessem cara a cara com o interlocutor. Excelente artigo, que retrata a realidade do mundo virtual de forma muito lúcida e clara. Parabéns.

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