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2014 o ano que não se apaga


Lourdes Sprenger
Vereadora de Porto Alegre e Protetora *


Tenho a sensação de que este ano de 2014 insiste em não terminar. Noutros tempos, as primeiras semanas de dezembro já nos traziam a euforia que antecedia a paz do Natal e a alegria compartilhada das festas de Ano-Novo. A mudança que sinto no astral das pessoas tem como causa, a meu ver, o estresse provocado pelo processo eleitoral desgastante e a ansiedade que toma conta da gente na esperança de que a onda de corrupção que se abateu sobre o país tenha desfecho com punição aos culpados. Some-se a isso o péssimo exemplo de barbárie a rebaixar nossa autoestima, patrocinado pela matança por envenenamento de cães e gatos na cidade de Bom Jesus.
Cito questões de grande repercussão social cujo impacto se produziu nos últimos meses do ano e nos mantêm em permanente estado de alerta. Parece que aos últimos meses de 2014 estavam reservados os fatos que mais mexeram com o Brasil. A todos os lugares que comparecemos, invariavelmente, as pessoas têm nos revelado certa perplexidade em relação ao presente e ao nosso futuro. Estão preocupadas sobre como será a vida daqui pra frente. Isto vem acontecendo em ambientes comunitários, escolares, políticos, empresariais e nos locais de trabalho, onde o tema da corrupção é recorrente, fortalecendo a percepção de que 2014 insiste em não terminar.
Confio, no entanto, na capacidade que temos de absorver os choques de realidade. Obrigatoriamente, a superação destes episódios vai nos encaminhar a algum grau de aperfeiçoamento. É a saída que temos para voltar a confiar em nossas instituições e fortalecer a democracia de forma que possamos entregar às gerações futuras um país decente, amparado pelo exercício de cidadania e na indispensável compreensão da atividade política.
Ao mesmo tempo em que nos submetemos ao constrangimento da corrupção e seus efeitos, sentimos o quanto a independência e a autonomia conquistadas por instituições de estado, como a Polícia Federal, o Ministério Público e a imprensa, fazem bem ao país e nos servem de ponto de apoio. É reprimindo e punindo os abusos e crimes como vazamento de bilhões de verbas públicas que poderemos agir com transparência. Pois são recursos que faltam para saúde, habitação, saneamento, educação e mobilidade urbana. Nunca esquecendo que a depuração na atividade política também se impõe com a prisão e a destituição de mandatos dos envolvidos nos conluios que vêm sustentando campanhas eleitorais milionárias.
Minha relação com a política está ligada a um objetivo que escolhi na vida: trabalhar como militante da causa animal. É por esta razão que busco o espaço de atuação política como plataforma de valorização da vida e do meio ambiente.
Trato de legislar de forma a conquistar garantias que tornem a relação homem-animal digna e, assim, possamos reduzir o sofrimento animal. Mas isto nós vamos conquistar por intermédio da conscientização, da educação e da efetividade dos programas governamentais. Tenho consciência de que todos os avanços que até aqui alcançamos, bem como aqueles que ainda precisamos consolidar, estão intimamente ligados ao um conjunto de necessidades que a população almeja e necessita.
Penso que a observação a limites éticos e a noção de solidariedade é que vão nos engrandecer, fazendo com que possamos prosperar à medida que avançarmos na educação, na formação dos jovens, dos professores, do exemplo dos pais, da ação transparente dos mandatários e dos representantes do povo.
Temos um longo caminho a percorrer, mas nossa responsabilidade é a de trabalhar, repito, pelo aperfeiçoamento da conduta individual e da ação coletiva. E mesmo diante de tantas dificuldades ao longo de 2014, vamos desfrutar do Natal abrindo a alma à esperança e à solidariedade. Que este sentimento humano (que o animal também demonstra pelo instinto de apego, protegendo a vida de crianças e alentando enfermos) se reproduza nos dias de um Novo Ano.

* Primeira vereadora (PMDB) eleita pela causa animal em Porto Alegre.


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