CMPA
Cleiton Freitas
vereador de Porto Alegre e delegado de Polícia
Meu ofício durante mais de 20
anos de trabalho na Polícia Civil, como delegado de Polícia, exigiu
envolvimento direto e diário com a violência, a criminalidade, o submundo da
contravenção. Muitos foram os boletins de ocorrência, inquéritos,
investigações, mandados de segurança, encaminhamentos aos presídios, buscas e
apreensões. Em meio a tudo isto, sempre busquei manter o respeito, tendo por
princípio que, mesmo tratando com um fora da lei, um devedor, eu deveria fazer
diferente. O marginal era ele, eu o delegado de Polícia.
O diálogo, a busca pela retomada
da razão, o interrogatório reflexivo, a citação das referências familiares são
atitudes que buscam sensibilizar, tocar, mostrar que há o que perder sim. Por
mais delinquente que seja, ninguém quer fazer seus afetos sofrerem. Delinquentes
têm sentimentos? Sim, em outra escala de valores.
Precisamos discutir que valores
nossa sociedade está cultuando.
A superficialidade e o
imediatismo estão tornando afetos artigos supérfluos, voláteis, efêmeros. O ter
está mais valioso que o ser. A busca pelo dinheiro fácil e rápido tem o mesmo
imediatismo que pedir alteração da idade penal. Não resolve. Não educa.
A falta de investimento na
educação, na reinserção dos apenados, no cumprimento das leis e das medidas
socioeducativas está deixando nossa rotina insegura. As pessoas estão alterando
rotinas, tratando traumas psicológicos, deixando de fazer algo por causa da
violência no entorno, cada vez mais próximo. Não tem mais hora, local ou dia.
Os índices estão aumentando vertiginosamente. A audácia também. A violência,
que deveria estar trancafiada nas casas de detenção, está cada vez mais perto
de nós.
Precisamos construir espaços de
educação. Espaços que respeitem o saber e a experiência de cada um, que
possibilitem enxergar que outra vida é possível, que tem espaço nesta sociedade
para diferentes formas de ser, desde que respeitados os limites de civilidade,
respeito e harmonia entre os seres. Respeitar os direitos, as leis, as medidas,
as regras, os espaços, as diferentes formas de organização e funcionamento dos
grupos. Enfim, respeito é a palavra de ordem da nossa sociedade.
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