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Um olhar negro

CMPA


Cleiton Freitas
vereador de Porto Alegre e delegado de Polícia

Tenho conversado neste espaço sobre educação, segurança, violência urbana. Já deve estar entendido que uma coisa leva a outra, ou seja, sem educação, os índices de segurança diminuem e os de violência aumentam, porém, hoje, vou falar disto sob outra ótica. Não temos somente os índices de violência multiplicados por três em função da cor da pele, temos direitos negados, ausência de políticas públicas e uma cultura de perseguição e marginalização que nos coloca como inferiores. Assistimos ao genocídio do povo negro, à perseguição às religiões de matriz africana, à falta de saneamento nas periferias para onde nos empurraram e ainda temos de conviver com a negativa de racismo, com a resistência às ações afirmativas implementadas.
Reconheço que minhas cotas tiveram outros nomes, mas cumpriram o papel destas de hoje. Superei preconceito e racismo por que isto não me paralisou, não me intimidou, não me imobilizou. Comemoro minhas conquistas e minha árdua caminhada. É muito difícil almejar um lugar quando nunca se viu um negro nele, mas é possível. Quero que se torne natural, corriqueiro, que os lugares sejam ocupados pela competência e pela capacidade, que as oportunidades sejam iguais para todos, que as diferenças sejam para somar e não dividir ou diminuir.
A falta de investimento em educação é um problema da sociedade, mas para os negros o acesso é ainda mais difícil.  Infelizmente, continuamos com índices que em nada são motivo de orgulho. Aqui, no Sul, somente 10% dos matriculados nos cursos de graduação são negros, mesmo tendo triplicado o número depois do sistema de cotas ter sido implementado e o ProUni, instituído. Porém, a boa notícia é que aumentou bastante o ingresso de negros em cursos como Medicina, Arquitetura e Administração – que tradicionalmente formavam apenas brancos.
A cor da pele dos jovens está diretamente relacionada ao risco de exposição à violência. Os jovens negros são as principais vítimas, os mais vulneráveis. Precisamos de políticas de Segurança Pública sólidas voltadas aos jovens, principalmente os negros, que associem policiamento, prevenção e políticas sociais. O jovem é mais vítima do que agressor. Precisa é ter oportunidade.
O olhar dos negros busca na história de luta a força para fazer um futuro com mais respeito e dignidade para a raça humana, independentemente da cor da pele.


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