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Acontece o Brique de Ipanema



  
Há mais de 10 anos, cheguei a constituir uma empresa e promover o evento Mix Bazar Ipanema, que acontecia uma vez por mês na SABI, a Sociedade dos Amigos do Balneário de Ipanema - um ambiente privado, com mais de 80 expositores artesãos e artistas da cidade que se apresentavam e comercializavam seus trabalhos. Como moradora do bairro Ipanema desde que nasci, posso dizer que o Brique de Ipanema é um sonho antigo. Sempre me admirei com o Brique da Redenção, que eu mesma visitava muito raramente, por causa da distância, e desejava ver algo semelhante acontecer perto de casa. Em 2014, veio o Arte e Artista na Orla, uma ação que chamou a atenção para a produção cultural na nossa orla. Depois, outros eventos, como o Trapiche Sound, de Leandro Fernandes, e o Orla Vive, de Susana Jung. Mas, do Arte e Artista na Orla para cá, em contato com Landa Brito, na Secretaria Municipal de Turismo - SMTUR, após este evento ter recepcionado artesãs vinculadas ao Turismo Criativo, fui questionada sobre a possibilidade de escrever e tocar em frente um projeto de Brique para Ipanema. À época, sugeri outro projeto: Brique Itinerante de Artes Integradas, que cheguei a apresentar em duas oportunidades à comunidade da Zona Sul, mas, infelizmente, não tive condições de levar adiante.
Conforme fui me apropriando das necessidades e dos problemas dos moradores locais, dos artesãos e artesãs que participam de feiras e briques na cidade e não querem pagar para utilizar o espaço público para expor seus produtos, decidi escrever e sugeri o projeto do “Brique de Ipanema”. Reuni amigas e amigos do bairro e pessoas interessadas em uma nova proposta de exposição e comercialização do que é feito por nós mesmos e que evidenciasse a nossa cultura identitária ao valorizar o nosso modo de viver a orla de Ipanema. Um evento que poderia acontecer somente no primeiro domingo de cada mês e cujo formato foi sendo construído a cada reunião, com a opinião dos expositores.
Inicialmente, pensamos em vincular o Brique de Ipanema a uma associação que já existe, mas, depois, decidimos que seria melhor formarmos o brique de forma independente e, mais adiante, se for necessário, constituir a própria associação. Em contato com o vereador Delegado Cleiton - eleito aqui na Zona Sul - e sua assessora Rejane Guariglia, recebemos apoio para a constituição do Brique de Ipanema via projeto de lei. Depois, levamos o projeto em andamento ao então secretário Humberto Goulart, na SMIC, que também apoiou a nossa iniciativa e nos colocou em contato com Jane Freitas, a responsável pelo setor dos Briques e Feiras nesta secretaria. Em seguida, Jane participou de uma de nossas reuniões, esclareceu nossas dúvidas e ofereceu o apoio necessário para prosseguirmos. Escrevemos e revisamos o regulamento passo a passo, em várias reuniões, com a presença de expositores interessados e de quem hoje está encabeçando as coordenações dos quatro segmentos que compõem o Brique de Ipanema: Rosa Knipping (Antiguidades), Cristina Sampaio (Artesanato), Cristine Saldanha Pilla (Artes Visuais) e Poni Carvalho (Alimentos Artesanais).
Nossa expectativa é a de que os moradores e os frequentadores eventuais da orla de Ipanema possam experimentar uma forma diferente de vivenciar seus momentos de lazer e de consumo no espaço escolhido para a realização do Brique de Ipanema - ainda, um dos locais mais criticados pelo barulho excessivo e pela sujeira e depredação, infelizmente. Além do desejo de criarmos um espaço cultural ao ar livre para a comercialização de artesanatos, artes visuais, antiguidades e alimentos artesanais, nosso projeto foi pensado a partir de conceitos relacionados ao turismo comunitário e à valorização da cultura identitária local em uma orla multicultural. Para nós, moradores antigos ou novos podem conviver em harmonia com os frequentadores eventuais que possuem gostos e comportamentos próprios, evidenciados no espaço público. Como moradora, percebo que indivíduos e grupos vindos de diversos locais de Porto Alegre se apropriaram da orla (tanto quanto os que aqui residem) e vêm para cá em busca de diversos tipos de entretenimento. O Brique de Ipanema sinaliza e revela a nossa identidade também porque a maioria dos expositores são moradores do bairro e arredores. Por localizar-se em uma zona que mistura residências familiares e bares, pode ser que o Brique de Ipanema promova a construção de outros sentidos a esse encontro de culturas - em relação ao consumo consciente e ao convívio tranquilo, por exemplo.
Os nossos passos vão em direção aos próximos três meses. Nosso projeto começa a ser moldado na prática a partir da sua inauguração no dia 6 de dezembro de 2015, até a sua terceira edição em fevereiro. Em março, o “Brique de Ipanema” possivelmente terá o seu formato redefinido, mas continuará com até 40 expositores fixos e convidados, devidamente cadastrados, regulamentados, sempre orientados pelas coordenadoras dos quatro segmentos que propomos desde o início em nossas reuniões com diversos grupos de artesãos, artistas, colecionadores e mestres cozinheiros.
   


Marcia Morales Salis
Gestora Cultural, moradora do bairro Ipanema
marcia_ms@msn.com

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