Moradores que relatam odor
desagradável durante o mês de maio suspeitam da Estação de Tratamento de Esgoto
Serraria, mas o Dmae nega que ela seja responsável. Outra suspeita é a irmã
mais velha, a ETE Ipanema, construída na década de 90. E há ainda uma terceira
possível vilã: a fábrica de celulose do outro lado do Guaíba
Inaugurada em abril como uma obra histórica por ter
potencial para tratar 50% do esgoto da cidade, a Estação de Tratamento de
Esgoto Serraria (ETE Serraria) está sendo apontada por moradores dos bairros
Guarujá, Serraria e Ponta Grossa como suspeita de estar causando o mau cheiro
que parte da população dos arredores está sentindo, em horários variados. A
maioria dos relatos é de pessoas que residem nas proximidades da ETE, mas
algumas que moram a mais de 1 quilômetro de distância da área de tratamento também
relataram o problema. Pela análise de alguns, dependendo da direção do vento
mudam as áreas atingidas pelo forte odor.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae),
responsável pela operação da ETE Serraria, que deu início à operação em março,
com parte de sua capacidade, nega que a estrutura seja responsável pelo mau
cheiro. Por meio de nota, o órgão informou que foi realizada inspeção no dia 15
de abril e nenhum odor foi constatado junto aos tanques.
A origem do odor sentido por moradores poderia estar nas
lagoas de tratamento da Estação de Tratamento de Esgoto Ipanema, construída na
década de 90, quando Porto Alegre passou a ter capacidade de tratar 27% de seu
esgoto. Esta estrutura, que utiliza outra tecnologia, será desativada, segundo
o Dmae, somente quando for autorizado o aumento da vazão da ETE Serraria, que
tem previsão de operar com capacidade máxima em 2015.
O ex-presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia
Hidrográfica do Lago Guaíba, professor Luiz Fernando Cybis, do Instituto de Pesquisas
Hidráulicas da Ufrgs, explica que todas as estações de tratamento geram gases
(e alguns podem produzir mau cheiro). Estruturas deste tipo precisam controlar
suas emissões atmosféricas e, na ETE Serraria, no futuro os gases serão
recolhidos para a geração de energia para a própria estrutura, mas enquanto ela
está subutilizada, este processo ainda não está sendo realizado, o que poderia
ser uma possibilidade de liberação de
gases. Segundo Cybis, outra possível razão para o mau cheiro está relacionada à
estação estar operando com capacidade reduzida, porque, enquanto a estrutura
não estiver com operação total, a carga inferior ao previsto e a vazão é menor,
possibilitando a liberação de gases para a atmosfera ao operar abaixo da
condição de projeto.
Enquanto não se descobre a razão do mau cheiro, leitores de O Jornalecão têm feito contato frequente com a
redação, informando a ocorrência em horários variados, em ruas diferentes da
região, e solicitando que as autoridades identifiquem a origem do odor e
solucionem o problema que está desagradando muitas pessoas. O Jornalecão entrou
em contato com a assessoria de comunicação do Dmae, mas, até o fechamento da edição, não
recebeu resposta do órgão.
Perguntado sobre o assunto por O
Jornalecão, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) respondeu aos
questionamentos após o lançamento da edição de Maio/2014, por isso, serão
publicadas na próxima edição do jornal, dia 25 de junho. Mas, na internet,
estamos disponibilizando desde já as respostas.
O Jornalecão: O alegado mau cheiro que
moradores dos arredores da área de tratamento de esgoto no bairro Serraria
pode estar sendo ocasionado pela ETE Serraria ou pela ETE Ipanema? Se sim,
como isto poderia estar ocorrendo?
Dmae: A ETE Serraria dispõe de cobertura dos tanques para retenção
de odores, queimadores de gás e tratamento por biofiltro como proteção à
emissão de odores oriundo de gases produzidos. A ETE Ipanema é um sistema de
Lagoas que na entrada poderá exalar odor. A ETE Ipanema será desativada e a ETE
Serraria, quando estiver operando com uma vazão próxima a de projeto, não mais
produzirá qualquer odor. Por enquanto, operando com uma pequena vazão e em
função do regime dos ventos poderá ser percebido algum odor, mas por curto
espaço de tempo.
O Jornalecão: O
que é necessário para que a ETE Ipanema seja desativada?
Dmae: É
necessário ampliar a vazão de tratamento da ETE Serraria, o que foi autorizado
pela Fepam a pedido do Dmae. Com esta ampliação autorizada, temos planos de
interligar os afluentes da ETE Ipanema nos próximos meses, desativando esta
ETE.
O Jornalecão: Segundo um especialista, o fato de a ETE
Serraria estar operando abaixo de sua capacidade poderia ser a causa
do mau cheiro, o que não aconteceria mais quando ele tivesse operando com a capacidade
máxima. Pode ser esta a razão do odor desagradável que moradores estão
sentindo?
Dmae: Esta é
uma razão possível, pois com vazões pequenas o tempo de permanência do esgoto
nos poços de visita e tubulações é maior, podendo ocorrer degradação (apodrecimento)
da matéria orgânica, que é causa do mau cheiro.
O Jornalecão: Outra possível
razão seriam os resíduos que ainda não estão sendo utilizados para gerar
energia para o funcionamento da ETE. Isso de fato poderia estar causando
mau cheiro?
Dmae: Não, os
resíduos previstos para gerar energia é o lodo que sai da estação totalmente
desaguado e que hoje deverá ter destino para aterro com contêineres fechados,
sem possibilidade de causar mau cheiro.
Líder comunitário
também se manifesta
Ivam Kley, da Associação dos
Moradores e Amigos da Zona Sul de Porto Alegre (ACOMAZS), após ler a matéria
sobre o mau cheiro, prestou o seguinte esclarecimento: “Em referência a esse
artigo, venho esclarecer que a ACOMAZS já patrocinou vários eventos a fim
de esclarecer esse assunto. Convidamos a comunidade para palestra de
esclarecimento com audiovisual proferida pelo diretor do Dmae. Também já
patrocinamos duas visitas diretamente na ETE Serraria com a comunidade (23
pessoas cada visita),
convites feitos pessoalmente e por
meio de chamamento com carro de som, cartazes.(Foram oferecidos) transporte e
acompanhantes gratuitos, com a finalidade de conhecermos e vermos de perto o
trabalho que está sendo feito para despoluição do Guaíba.
A respeito do mau cheiro, pudemos
constatar no local em que o esgoto é despejado nos tanques como é tratado. Posso
informar que não houve o interesse da comunidade em nos prestigiar, nem
se informar dos projetos e sobre como os efluentes são tratados, já
que menos da metade das pessoas convidadas compareceram”.
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