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Especial Saúde

Primeiros socorros: como a população deve se preparar


A partir de um caso presenciado em 28 de setembro pelo jornalista Gustavo Cruz, que encontrou caída no chão uma senhora e ligou para o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU), mas a atendente não fez o chamado por considerar que não era caso de urgência e o orientou a levá-la a uma delegacia, O Jornalecão dá início nesta edição a um especial sobre saúde pública que pretende esclarecer aos moradores da Zona Sul, entre outras questões: Como a comunidade, ao auxiliar no socorro, pode estar preparada para diferenciar casos de urgência ou emergência de outros menos graves? É correto recomendar que se remova uma pessoa que está caída no chão para a delegacia? Como o profissional da saúde, por telefone, pode diferenciar casos graves de outros, somente com as palavras de pessoas comuns, que muitas vezes não sabem como proceder? A Brigada Militar (BM), já sobrecarregada, deveria atender casos como este? Se não, quem é responsável?
No fim das contas, a senhora acabou atendida pela BM primeiramente e, depois, pelo SAMU, que foi acionado na base por um casal que passava perto do local e resolveu ajudar. Mas as dúvidas permanecem e O Jornalecão vai a fundo para esclarecer a população, ouvindo representantes da Brigada Militar, o capitão Fábio Kuhn, comandante da 4ª Companhia do 1º BPM, e também do Município, o Dr. Luciano Eifler, coordenador médico do Núcleo de Educação Permanente.
  

Confira abaixo suas respostas e também o artigo "Primeiros Socorros, uma questão de cidadania", de Luciano Eifler.

1. Como a comunidade, ao auxiliar no socorro, pode estar preparada para diferenciar casos de urgência ou emergência de outros menos graves?

Capitão Fábio Kuhn: "É difícil dar uma resposta única sobre isso porque, às vezes, casos aparentemente menos graves são piores, em termos de saúde, do que outros visivelmente mais assustadores (ex.: pessoa sangrando), além de depender do conhecimento e vivência. Geralmente conhecemos a rotina perto da nossa residência ou deslocamentos de rotina no bairro ou cidade e logo percebemos anormalidades. Socorrer alguém é um ato humanitário de amor ao próximo, e a percepção, reação e sentimento do ajudador é diferente em cada caso, mas percebemos nitidamente quando alguém necessita de nossa ajuda ou socorro, e devemos fazê-lo sem hesitar e o mais rápido possível".

 Dr. Luciano Eifler: "Em países desenvolvidos o treinamento em primeiros socorros faz parte das disciplinas ensinadas ainda na escola, formando crianças preparadas para agir em situações de emergência. No Brasil essa cultura ainda não está plenamente disseminada, porém é possível que qualquer cidadão, mesmo sem formação na área da saúde, possa estar preparado para realizar os primeiros socorros e acionar o atendimento por ambulância quando indicado. Os casos de maior gravidade são aqueles em que a vítima encontra-se inconsciente, pouco responsiva (não atende ao chamado quando estimulado) ou com dificuldade para respirar. Uma variedade de doenças clínicas e situações traumáticas podem ser graves o suficiente para necessitar socorro. Hipoglicemia (glicose baixa), convulsāo, dor no peito, sinais de Acidente Vascular Cerebral (AVC) com perda de força em braços e pernas, "boca torta" ou dificuldade na fala são situações clínicas frequentes que necessitam assistência no local e atendimento pré-hospitalar. Em acidentes de trânsito, o melhor é não mexer na vítima e manter a coluna imóvel. Verificar se há sangramento, deformidades e local do ferimento são informações importantes para classificar a gravidade.
É possível ler e informar-se sobre o assunto em publicações voltadas para leigos. Cursos de primeiros socorros costumam ser fornecidos em empresas que têm Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). No SAMU de Porto Alegre há um programa chamado Samuzinho, que ensina alunos e professores do ensino fundamental como agir em acidentes e emergências. Um leigo preparado torna-se um aliado no melhor atendimento à vítima. Lembre-se, primeiros socorros nāo é assunto de especialista, é uma questão de cidadania!".


2. É correto recomendar que se remova uma pessoa que está caída no chão para a delegacia?

Capitão Fábio Kuhn: "Não, por isto não. Devemos dialogar, ver o que se passou, porque está ali, enfim, o que aconteceu e procurar ajuda, se for o caso. O mais adequado sempre é acionar o socorro adequado, visando ao transporte correto da vítima, mas, pelas dificuldades já citadas acima, se o ajudador avaliar que a demora pode ser fatal e resolver levá-lo, é uma decisão pessoal e não devemos condená-lo por isso, pois é uma decisão que tomará no local do fato, com emoção e sentimentos".

Dr. Luciano Eifler: "Na suspeita de trauma (acidentes de trânsito, agressões, queda de altura, etc..), não se deve mobilizar a vítima pelo risco de agravar possíveis lesões na coluna!  Porém, nem todos indivíduos que se encontram ao solo precisam imobilização ou atendimento por equipe de saúde. A informação do local é fundamental para o entendimento do que houve e a necessidade ou não de imobilização e atendimento especializado".


3. Se uma pessoa não habilitada levar alguém que está no chão, sem saber a razão (se foi atropelado, por exemplo), e esta tiver consequências pelo transporte inadequado, será responsabilizada por fazer o atendimento?

Dr. Luciano Eifler: "A chamada 'Lei do Bom Samaritano' resguarda leigos que ajudam alguém em perigo de qualquer responsabilidade legal relacionada com a assistência prestada. O propósito da lei é incentivar a assistência de emergência, excluindo a ameaça de responsabilidade por danos causados pela assistência. A 'Lei do Bom Samaritano' tem origem bíblica e está descrita no Novo Testamento (Lucas 10:25-37), na qual um viajante ajuda um estranho que foi assaltado e espancado por ladrões. Sobre a movimentação de alguma vítima, é importante reforçar que não deve ser mobilizada se houver suspeita de trauma. O melhor é ligar para o SAMU, informar sobre o caso e seguir a orientação do Médico Regulador".


4. A Brigada Militar, já sobrecarregada, deveria atender casos como este? Se não, quem é o responsável?

Capitão Fábio Kuhn: "A Brigada Militar é a polícia ostensiva militar e fardada e sua missão é a preservação da ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, atuando na prevenção. Sua missão não é assistencialismo ou chamadas de emergência de saúde, mas, muitas vezes, pela ineficiência, omissão e indisponibilidade de outros Órgãos, somos acionados e ajudamos da melhor forma".

Dr. Luciano Eifler: "O caso descrito referia-se a uma senhora de 60 anos encontrada em via pública confusa, agitada e aparentemente perdida de seus familiares. Não havia ferimentos ou lesões evidentes pelo relato do local. A confusão mental e agitação estavam relacionadas com doença psiquiátrica prévia. O caso desta senhora foi considerado de baixa gravidade, sendo conduzida para avaliação psiquiátrica no Posto de Saúde da Cruzeiro do Sul após manejo verbal. Em indivíduos muito agitados que não colaboram com o atendimento, apresentando surto psicótico e agitação psicomotora (muitas vezes agressivos ou armados), é necessário apoio da Brigada Militar para garantir a segurança no local e contenção do paciente.
A responsabilidade de atendimento pode ser conjunta e realizada por várias forças públicas: Pacientes agitados, agressivos e armados necessitam abordagem pela Brigada Militar como já exposto (segurança no local). Inconsciência ou ferimentos graves necessitam atendimento por equipe do SAMU. Sedação em pacientes em surto também pode exigir intervenção de equipe da saúde. Pacientes com doença psiquiátrica, estáveis, sem risco de vida, podem ser conduzidos pela própria família para consulta e avaliação psiquiátrica. Em algumas situações a atuação da FASC (Fundação de Assistência Social e Cidadania) é desejável na abordagem de rua, identificação e localizaçāo de familiares".


5. Como o profissional da saúde, por telefone, pode diferenciar casos graves de outros, somente com as palavras de pessoas comuns, que muitas vezes não sabem como proceder?

Dr. Luciano Eifler: "A Regulaçāo Médica é a atividade realizada por equipe de médicos em uma Central de Regulação. As ligações telefônicas e pedidos de socorro são triados e classificados conforme a gravidade de cada caso, utilizando informações passadas pelo solicitante. As perguntas realizadas pelo médico serão simples e objetivas, direcionadas conforme o caso. Podem ser fornecidas por qualquer pessoa. Ao ligar para a Central do SAMU (192) solicitando socorro, mantenha a calma, diga o que está acontecendo e o que você está vendo, respondendo o que lhe for perguntado. Se as informações forem passadas de maneira correta, o médico vai presumir a gravidade e lhe dizer o que fazer enquanto a ambulância não chega. Todos os dias são centenas de chamados, sendo importante o trabalho da Regulaçāo Médica, para classificar os casos mais graves que terão prioridade".


6. Todos os profissionais de saúde estão aptos a atender emergências e orientar a população sobre como proceder nestes casos? 

Dr. Luciano Eifler: "Os médicos que atuam no atendimento pré hospitalar passam por treinamento e programas de educação médica continuada para garantir a capacitação no atendimento de situações extremas e emergências de todos os tipos. A orientação telefônica, estratificação da gravidade e manejo do solicitante, muitas vezes em pânico ao chamar socorro, fazem parte da formação do Médico Regulador, que, entre outras características, tem como pré-requisito o autocontrole e a habilidade de gerenciar situações de crise".

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